Caros leitores, com muito pesar, me encontro no dever de andar pelas ruas mostrando um cartaz com os dizeres ‘O Fim do Mundo está Próximo’.
Assisti o programa de notícias Sessenta Minutos ontem na plataforma smotrim.ru da televisão estatal russa. Antes de passar o microfone para os panelistas, os primeiros 30 minutos do programa apresentaram uma arrepiante montagem de trechos de notícias estadunidenses, alemãs, européias, britânicas sobre acusações de bombas suja, sobre os exercícios atuais do porta-aviões George Bush Sr. no leste do Mediterrâneo e a mensagem clara ao Sr. Putin sobre as capacidades de ataque nuclear, sobre a tropa de assalto de 2400 estadunidenses recém enviada à Romênia e colocada na fronteira com a Moldávia, pronta para lá entrar e, se pode seguramente supor, continuar até a Ucrânia para enfrentar russos ao redor de Odessa e Nikolaev a qualquer momento. Bem, a impressão desta escalada foi esmagadoramente que estamos à beira da “guerra para terminar todas as guerras”. Os EEUU estão dispostos a ela, seja o que for que o Biden murmure em contrário lendo de seu teleponto. Os russos estão dispostos a ela. E lá vamos nós!
Num tom menos dramático, mas um da mesma partitura, creio que seja obrigado a adicionar um post scriptum a meu último ensaio sobre Rushi Sunak, indicando que eu estava errado sobre o tipo de ordens que ele tem da City de Londres: enquanto que ele substituíra a maioria dos ministros do gabinete da Truss, ele retera o Ben Wallace na Defesa. Repare que Wallace está clamando por aumentos nas despesas de defesa para apoiar a contribuição da Grã-Bretanha às forças armadas ucranianas ao mesmo tempo em que Sunak está prestes a passar a faca nos serviços sociais em nome de um orçamento equilibrado e de austeridade em tempos de inflação. O mandato de Sunak não durará um ano, supondo que tenhamos um ano diante de nós antes que tudo vá para o inferno. Ele compartilha com Macron um histórico de trabalhar para banqueiros internacionais estadunidenses e o fato de serem os líderes de governo mais jovens em seus respectivos países em dois séculos. Aparentemente, ele também compartilha a condição de ser um político peso-pena, mas, ao contrário de Macron, sua posição é muito frágil, devido a práticas constitucionais britânicas. Diria que tais eventos se conformam em geral com aquela partitura, porque mostram que as ordens que recebera daqueles que o instalaram no poder, a City de Londres, são tão ideologicamente motivadas quanto o jornal que lêem diariamente, o brutalmente anti-russo Financial Times. Então concluo que também no Reino Unido o Capital esteja tão removido do mundo real quanto os políticos pesos-pena e incompetentes que nos governam no Continente.
O que não consigo entender é como a Índia, a China e outros atores grandes e sérios no cenário mundial não reparam que a escalada crescente no confronto entre a Rússia e a OTAN, e o solavanco em direção a um conflito nuclear, significará o fim da vida no planeta, tanto de suas como de nossas vidas. Por que estão todos em silêncio? Onde estão as Nações Unidas diante do Apocalipse iminente? Quando os votos da Assembléia Geral são ditados por um hegemônico global e seus lacaios, a relevância da ONU em manter a paz está corrompida.
A tragédia evitável da 1ª Guerra Mundial é algo que está na fronte de meus pensamentos toda vez que fico em meu apartamento em Pushkin, nos arredores de S. Petersburgo. Moramos a 200m da entrada do parque Palácio de Catarina e a menos de um quilômetro do palácio que Nicolau II usou como casa de família. Sempre que estou lá, me pergunto como poderiam ter sido tão tolos jogando a civilização européia às favas e, no que concerne a família do tsar, jogar fora suas próprias vidas. Agora vejo uma tolice semelhante assistindo diariamente os noticiários, sejam o russo ou os principais difusores ocidentais. Vejo a crescente probabilidade de nosso suicídio coletivo nas semanas, senão meses, a nossa frente.
Entre russos patriotas, há tempo há muitas críticas à maneira que a ‘operação militar especial’ na Ucrânia é conduzida. Pessoas dizem que Putin tem sido muito brando contra os ucranianos; que ele deveria ter destruído a infraestrutura energética nos primeiros dias de março, sem esperar sete meses, e permitir a escalada atingir seu ponto crítico atual. No entanto, isto é ignorar a dimensão política da condução de uma guerra. E é ignorar a realidade que a opinião pública é uma grande restrição a que seu Presidente pode ou não fazer, independente de provisões constitucionais ou de suposto autoritarismo.
O público russo não estava pronto para uma guerra irrestrita contra a Ucrânia em fevereiro. Os laços pessoais, familiares e históricos unindo os povos russo e ucraniano eram simplesmente muito fortes. Russos, incluindo aqueles no poder, podiam nutrir a esperança que, uma vez terminada a campanha, os lados fariam as pazes. Levou todo este tempo. Precisou se passarem todos os limites, em termos de ataques ao solo russo por artilharia e foguetes a partir do outro lado da fronteira com a Ucrânia. Precisaram a destruição dos gasodutos Nord Stream e o ataque terrorista à ponte sobre o estreito de Kerch para o povo russo ser preparado psicologicamente para se assassinarem às dezenas de milhares de soldados ucranianos no campo de batalha, como se faz em qualquer guerra normal, e se infligirem grandes privações à população civil.
Entretanto, não se pode se desculpar o Kremlin tão facilmente de sua parcela de culpa quando o mundo titubeia em direção à guerra nuclear. Acho Incrível que o analista profissional de inteligência Vladimir Putin, quem todos de nossos biógrafos descrevem apenas em relação à sua carreira na KGB, poderia se deixar enganar por seus conselheiros da inteligência sobre as capacidades e intenções ucranianas antes dele decidir ir denazificar e demilitarizar a Ucrânia em 24 de fevereiro. Foi um erro de cálculo de proporções colossais que resultou em sérios contratempos militares nas semanas iniciais da guerra, que, por suas vezes, encorajaram os líderes dos Estados Unidos e da OTAN a irem com tudo e finalmente ‘apagarem’ a Rússia. Nada ma is direi.
Translated into Brazilian Portuguese by Evandro Menezes
Dificil y terrible de leer.
Gracias por compartir.
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